terça-feira, 22 de novembro de 2011

Tudo

Eu sou um quadrado, pois o certo é ser reto.
Mas quem disse que o certo é o certo? O que é certo afinal? O que é errado?
Talvez ser um círculo seja o certo pra mim.
Eu sou um círculo, pois é o que eu quero.
Foda-se o que pensam, ou se dizem que é errado.
Mas se dizem, talvez seja errado pra eles...
Talvez eu não devesse ser nenhum dos dois. Ou os dois.
Ou talvez eu devesse ser o que eu quero. Tudo.
Eu posso ser um cilindro. Um quadrado de um lado, um círculo de outro.
Eu posso ser muito mais do que um cilindro. Há mais do que três dimensões.
Há muito mais por trás do que os olhos vêem.
Há muito mais além do que eu mesmo vejo.
E tudo que eu posso ser sou eu mesmo.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Pesadelo

Preciso dormir, preciso dormir, preciso dormir, preciso dormir, preciso dormir...

Outra vez o mesmo pesadelo, os corredores sem fim do labirinto escuro.


Tentou abrir os olhos, mas não conseguiu. Já estavam abertos.


Preciso dormir...


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

"Porquê você me mantém preso em uma gaiola?", perguntou o pássaro.
"Para manter você seguro, você morreria lá fora", respondeu sua dona.
"Eu morrerei de todo jeito, sou um ser vivo!", disse.
"Mas preso você está seguro e vive mais..."

"Uma vida longa sem liberdade não faz sentido."
Sua dona não tinha resposta dessa vez, mas não o soltaria mesmo assim.

sábado, 24 de setembro de 2011

Fim

O rapaz saiu em busca de seus sonhos, e os encontrou.
Foi até o Paraíso e passeou pelo parque tocando seu violão junto com a pessoa que havia procurado durante toda a vida.
A Morte comandava a peça à distância, para que o sonho dele fosse realizado.
E quando o rapaz cruzou o portão de volta ao mundo normal, a Morte foi buscar seus pertences, pouco a pouco. Primeiro o dinheiro, depois as placas que indicavam o caminho, e então sua casa, seus amigos e sua liberdade.
Logo ele percebeu que a Morte havia cobrado o preço pelo seu sonho.
Sua vida estava agora completamente despedaçada, e ele observava a Morte varrer os pedaços e jogá-los no lixo, sem poder fazer nada.
...exceto correr.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O guerreiro abandonou sua espada, após anos no comando do Exército Imperial.
Subiu até o topo de uma montanha e foi ao encontro de um grande sábio.
"O que deseja, meu filho?", perguntou ao guerreiro.
"Eu passei a minha vida servindo ao Exército Imperial. Causei inúmeras mortes, presenciei incontáveis atrocidades... minha consciência não permite mais que eu viva num mundo aonde só há maldade, sofrimento e injustiça", disse.
O sábio respondeu: "Desça e traga até mim tantas moedas quanto conseguir."
O guerreiro desceu a montanha, juntou todo o seu dinheiro e voltou.
"Aqui estão mil moedas de ouro", disse ao sábio.
"Jogue todas elas para o alto", ordenou, "e então conte quantas moedas caíram com o lado do rosto do Imperador virado para cima."
O guerreiro cumpriu a ordem e respondeu: "Setecentas e trinta e duas."
O sábio então lhe disse: "As faces que você contou representam o mal, e as outras o bem. Para você, o mundo se resume apenas ao que você vê.
Mas todas as moedas possuem os dois lados."

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Escuridão

Uma neblina inesperada cobria a cidade, que amanhecera fria e silenciosa.
O rapaz despertava, a cabeça sobre o travesseiro ainda úmido.
Levantou-se para tomar banho, e deteve-se ao notar que o espelho já estava embaçado antes mesmo que ele ligasse o chuveiro.
Esfregou a toalha contra o espelho, mas não viu seu reflexo.
Em seu lugar, uma silhueta encapuzada se aproximava lentamente. Seus braços pareciam ser tão finos quanto ossos. Mesmo sem conseguir enxergar seus olhos, o rapaz soube que seu olhar estava fixo nele.
"Não tenha medo.", disse a voz grave e seca através do espelho.
"Quem é você? E o que você quer de mim?", perguntou o rapaz, apavorado.
"Eu sou a Morte.", respondeu.
"E eu vim para lhe contar um segredo."

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Luz

As pessoas buscam um pólo.
Mas dois pólos opostos são sempre partes de um mesmo objeto.


As pessoas buscam a perfeição.
Mas não a encontram, pois o sentido está em não a encontrar.


As pessoas buscam estradas que se cruzem.
Mas as estradas que se cruzam seguem por caminhos completamente diferentes.
As estradas que devemos buscar são as que seguem o mesmo rumo.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

A lua nova se pôs no horizonte.
Mas ninguém repara mais na lua. Nem nas estrelas, nem nas pessoas.
E por isso, não nos lembramos mais da morte.
Mas no fundo todos nós sabemos, apenas continuamos esperando que tudo dê certo no final, em meio às árvores de plástico.


Não podemos mais apenas esperar.

sábado, 27 de agosto de 2011

Era uma vez um patinho que nasceu lindo. Mas todos diziam que ele era feio.
Passou a vida inteira achando que era feio, por ser diferente dos demais.

Ele fazia de tudo para tentar mudar e ficar bonito. Mas como ele já era, nunca dava certo.
Até que um dia lhe disseram que ele era lindo, e ele não conseguiu acreditar.
Do que adiantava, se todos os outros o achavam feio?
Então resolveu ir embora para uma lagoa isolada do resto do mundo, aonde iria passar o resto da vida.
E o pato nadou para longe.


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Era uma vez um gato que estava sempre sozinho.
Passava a maior parte do tempo andando, procurando algum lugar para ficar.
Um dia encontrou um pássaro e se apaixonou pelo seu canto.
Passaram a se encontrar todos os dias para conversar.
Um dia o pássaro pediu: "Me prenda para que eu possa ficar sempre com você."
O gato respondeu: "Não posso fazer isso. Quero que você seja livre..."
E o pássaro voou para longe.


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

E no fim das contas, a vida não é sobre ter controle do próprio destino.
É impossível.
A única coisa que podemos fazer é aceitar, e aproveitar tudo que pudermos.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Morte

O caminho escureceu logo após o primeiro passo.
Completamente perdido, o rapaz fechou os olhos, pronto para aceitar o seu destino final.


Alguns rostos conhecidos compareceram ao seu funeral.
Ele ouvia suas vozes, mas não tinha forças para falar.
Foi enterrado e esquecido.

Talvez realmente estivesse morto, afinal.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Vida

O vazio doía de novo.
Mas agora ele sabia que deveria aproveitar sua segunda chance.
Já sabia o que fazer, agora só precisava agir.


O caminho estava claro, e não importava mais a distância até o final.
Sabia aonde iria terminar e estava decidido a segui-lo.
Não havia mais muito tempo, mas iria encontrar ao menos o espaço certo.


Os únicos a terem medo da morte são aqueles que já a conhecem.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Vidro

I. Oceano

Crepúsculo. Caminhavam os dois pela praia, conversando e dando risada.

Como o vento estava ficando mais forte, resolveram descansar um pouco.
Sentaram-se na areia. Ela admirava o sol poente enquanto ele a admirava.
"Obrigado por me trazer aqui", disse enquanto se curvava para abraçá-la.
"Por favor, não me solte...", pediu.
Mas o vento agora estava forte demais, e ele foi levado através do oceano.


II. Sonho

Madrugada. Acordou o rapaz em sua cama, sem conseguir conter as lágrimas.

Silêncio.
Sentou-se no chão, ao lado de seu sonho despedaçado.
"Por favor, não me deixe dormir...", sussurrou. Mas ninguém ouviu.


III. Areia

Manhã. Recolheu os pedaços de seu sonho para enterrá-los na praia.

Caminhou o dia todo, sem saber qual direção seguir.
O vento começava a ficar mais forte.
Sentou-se na areia, e logo percebeu que havia chegado ao deserto.
Jogou os pedaços no chão e seguiu em silêncio.
"Por favor..." foram suas últimas palavras, uma semana depois.
Seu epitáfio incompleto foi carregado pelo vento através da areia.

domingo, 14 de agosto de 2011

O rapaz acordou atrasado e não conseguiu ver o pôr do sol.
Observou o crepúsculo vazio, dizendo a si mesmo que muitas vezes o céu fica mais bonito quando o sol já se foi. Mas não sabia se era verdade ou se estava apenas procurando algo em que acreditar.

domingo, 7 de agosto de 2011

Sombras

O tempo é relativo. Mas ele passa.
O espaço é relativo. Mas ele sempre existe.
O destino é uma ilusão. Mas ele nunca deixa de iludir.
A esperança é a última que morre. Mas ela não é imortal.
...e na escuridão nada disso importa, pois só existem as sombras.

Espaço

Fazia tempo que o sol não brilhava tanto.
O rapaz contemplava o horizonte pela sua janela, admirado com a mudança repentina do clima, quando uma nuvem começou a se formar acima dele.
O sol continuou a brilhar, mas isso não impediu que a chuva caísse.



A nuvem se desfez pouco antes do crepúsculo.
A noite caíra, e não havia nada que ele pudesse fazer para mudar isso.
O sol seguira seu caminho; e o rapaz sabia que devia segui-lo também.

Mas não conseguia distinguir as sombras em meio à escuridão.

sábado, 25 de junho de 2011

Tempo

Era o primeiro dia do verão.
Os dois garotos observavam os campos verdes pela janela do vagão.
Logo avistaram outro trem, próximo à curva da estrada.
"Como ele passa rápido...", disse um dos garotos.
"Às vezes é o nosso trem que está correndo rápido demais", respondeu o outro.


Dez anos se passaram, e os garotos se encontraram novamente no mesmo trem.
"Você por aqui? Que coincidência!", disse um dos rapazes.
"Pois é, quanto tempo!", respondeu o outro.
"Como ele passa rápido..."


Mas somos nós que passamos rápido demais.

sábado, 11 de junho de 2011

Lua

Era uma noite fria de outono quando o rapaz se apaixonou pela Lua.
Por mais distante que ela estivesse, sua beleza refletida nas águas era o suficiente para prender a atenção do rapaz, que agora passava o dia inteiro pelas margens do rio a admirá-la.
"Deve se sentir muito solitária, estando tão longe do mundo...", ele pensava.
Mas a Lua estava longe demais, e ele simplesmente não podia alcançá-la.


Duas semanas depois, o rapaz voltou às margens do rio.
Mas a Lua não brilhava mais.
"Só pode ser minha culpa... eu não devia ter ido embora", pensou.
O rapaz continuou fazendo companhia para o reflexo da Lua nova, até ela se tornar cheia de novo.
Então um dia percebeu que, independente de onde ele estivesse, a Lua iria passar pelas mesmas fases, devido ao movimento em torno da Terra.
E assim o rapaz seguiu seu caminho.

domingo, 29 de maio de 2011

Longe

Queria estar com você. Mas você está longe.


Talvez eu realmente precise estar perto de você.
Mas talvez eu precise apenas estar longe de mim.

domingo, 22 de maio de 2011

Movimento

O mundo não vai pra frente. Nem pra trás. Ele gira.


O mundo gira em torno do sol. De vez em quando fica mais quente ou mais frio, caem as folhas, nascem as flores. Mas o mundo sempre volta ao mesmo lugar.


Cada pessoa tem um mundo dentro de si.
Passam a vida procurando um sol para girarem em volta, e luas para girarem em torno de si. E assim giram, até perderem o equilíbrio.


Mas alguns procuram um sol que também seja lua.
E assim, giram um em torno do outro. O movimento deixa de ser circular e passa a ser uma dança, ao som da música das esferas.


E o mundo continua a girar.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Esperança

Pandora havia perdido a sua caixa, e o rapaz havia perdido seu rumo.


No meio do caminho ele tropeçou, e acidentalmente abriu a caixa.
Mas decidiu guardar todos os males que dela saíram dentro de si, para manter em segurança o resto do mundo.
Infelizmente, após tanto tempo, não conseguia mais aguentar sozinho.


A Esperança manteve-se intacta, dentro da caixa, perdida no meio do caminho abandonado.
Enfim, até mesmo esta definhou, sabendo que jamais seria recuperada.
E Pandora seguiu seu caminho.


Ao sentir que o fim estava próximo, num último ato de lucidez, o rapaz construiu um caixão.
Cavou um buraco na estrada e sepultou seu próprio corpo, aonde esperou pelo seu fim.


O rapaz exalou um último suspiro. Os males ficaram presos em seu caixão, de onde jamais sairiam, ambos condenados ao esquecimento.


Nesse exato momento, a Esperança soube que ainda estava viva.
E Pandora encontrou seu caminho.

sábado, 14 de maio de 2011

Palavras

E então, por um breve momento, as palavras se perdem entre os pensamentos. O tempo continua a voar, o presente vai perdendo a cor até se tornar passado. Mas o futuro continua em branco e, curiosamente, cada vez mais distante.

O momento se foi, a dúvida permanece. Será mesmo possível escrever o futuro? Será que faria alguma diferença? 
Seria o futuro sempre uma folha em branco? Seria o presente sempre o passado? Seria possível encontrar as respostas?

As palavras se foram. Só restaram os sinais gráficos, privados de qualquer significado em meio à solidão.

...?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Nublado

O Sol está se pondo, e logo a Lua deve aparecer.
Mas não sei qual dos dois você é.


Se você for o Sol, a noite vai ser nublada mais uma vez...

Sei lá

Um dia eu vou lá pra ver se eu sei mesmo...

sábado, 7 de maio de 2011

A mente do rapaz continuava a fazer perguntas que não tinham resposta.
Estaria o mundo todo errado, ou apenas ele?
Ele sabia muito bem qual resposta era a mais provável...


Infelizmente, ele costumava acreditar no improvável.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Era uma vez um coração.
Ainda jovem, o Fogo foi aceso do lado de dentro; mas antes que a fumaça pudesse abrir um caminho para escapar, a fonte do Fogo foi deixada para trás. As chamas consumiram tudo ao seu redor, e só restaram as cinzas.
A caixa de Pandora foi aberta, e a Esperança enterrada no meio da poeira.

Todas as impurezas foram eliminadas junto com as chamas, mas ninguém jamais imaginaria que por baixo das cinzas o coração ainda estava pulsando.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A única coisa que pode fazer alguém continuar caminhando por um túnel vazio e escuro é uma luz no final... não importa o quão distante esteja.

domingo, 1 de maio de 2011

Janela

O sol não se pôs aquele dia. As sombras se espalharam sem aviso, e a chuva continuava enferrujando a velha janela.
O rapaz ouviu um barulho do lado de fora. Parecia ser alguém chamando seu nome, pedindo abrigo contra a chuva... ou talvez sua imaginação estivesse pregando uma peça e nada mais. Nunca ninguém chamara por seu nome, com certeza era apenas um barulho qualquer.
Apenas durma, dizia para si mesmo.
Mas se você realmente está aí fora, por favor bata na janela...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

As nuvens cobriram a última estrela.
Quem é você?
Seu rosto tem algo familiar. Já nos vimos antes?
Teria andado pelo mesmo caminho que eu?
Provavelmente não lembrarei mais do seu rosto semana que vem.
Melhor fechar a janela.
Esqueça, isso não importa... esqueça.
As luzes se apagaram. Tudo que restou foi uma pequena mariposa na parede.

Eu vejo você, mas não consigo falar.
Quem é você?
O que faz aí?
Consegue me ouvir?
O muro é alto demais. As palavras não chegam ao outro lado. Se perdem nas paredes da mente, ecoando por alguns instantes.
E então o sol se põe, e todos se lembram de ligar o despertador.
Mas não conseguem despertar do verdadeiro sono, e os sonhos desaparecem.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Chuva

O barulho da chuva batendo contra a janela ecoava pelo corredor.
Naquele dia, ele se perguntou:
"O que será que acontece depois da morte? Irá tudo simplesmente desaparecer, ou será que eu terei uma outra chance? Consertar os erros, viver a vida sem se preocupar com o amanhã, amar as pessoas intensamente..."
A chuva começava a diminuir.

"Tomara que eu tenha uma segunda chance...", pensou.


O barulho dos seus pensamentos ecoava pela sua mente.
Naquela noite, ele se perguntou:
E se essa for a segunda chance?


quinta-feira, 7 de abril de 2011

"Agarre-se à vida", lhe disseram. Mas ele vinha fazendo isso a tanto tempo que seus braços estavam cansados demais para continuar.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Vazio

Estivera doente há anos, mas nenhum médico conseguira descobrir sua doença.
"Mostre-me aonde dói", perguntou o doutor.
"Eu não tenho idéia...", respondia.


O rapaz não conseguia localizar a dor, pois o que doía era o espaço vazio.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Liberdade

Não conseguia mais beber água, nem comer, nem cantar. O pássaro morreu poucos dias depois. Cavaram um buraco na terra e o enterraram no quintal.


Finalmente estava livre.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

4/4

Arrancou todas as folhas do calendário e jogou fora a pilha do despertador.
O tempo do lado de fora não importa.

domingo, 3 de abril de 2011

A fênix continuou se transformando em cinzas e renascendo ao amanhecer, dia após dia, durante muitos anos. Até que um dia outra fênix surgiu, e vendo as cinzas sob os escombros, bateu as asas em sua direção para libertar a ave aprisionada.


Mas o vento foi muito forte. As cinzas voaram em direção ao céu e se dissiparam em meio às nuvens. A fênix se foi para sempre.

A fênix renasceu das cinzas, e suas asas não estavam mais quebradas.
Mas permaneceu sob os escombros, sem ter para onde voar.

A fênix suspirou pela última vez. Suas cinzas espalharam-se pelos escombros.
E lá ela iria permanecer, até que o sopro de outra fênix pudesse libertá-la.

A fênix não podia mais voar. Suas asas quebradas continuavam embaixo dos escombros. A única solução era queimar e virar cinzas novamente, para que fosse carregada pelo vento.


Mas não havia mais vento.

Cinzas

A bola azul parou de girar. As borboletas se foram, o horizonte se apagou, o ar se dissolveu, a chama se extinguiu. Não se ouvia mais o barulho, nem o silêncio. O chão desmoronou, as palavras se quebraram. O vazio se partiu.


As lembranças não eram mais reais. Todos os caminhos haviam se perdido.
As feridas foram mutiladas, os espelhos foram quebrados, a luz foi apagada.
As asas da fênix jaziam sob os escombros do muro que desabara.
Mas as cinzas permaneceram.

3/4

Era terceiro de abril, e ele percebeu que não fazia diferença.

sábado, 2 de abril de 2011

Estrelas

As estrelas brilhavam em meio ao espaço, contempladas pelo pequeno planeta. "Jamais brilharei como elas", pensou.


As estrelas brilhavam na noite sem nuvens, contempladas pelo pequeno garoto.
Mas uma delas chamou sua atenção. Era muito mais brilhante do que as outras.
Era o pequeno planeta opaco, que ao contrário das distantes estrelas, estava bem mais próximo do garoto.


Quanto menor a distância, maior é o brilho.

2/4

Era segundo de abril, e ele não sabia mais a diferença entre verdade e mentira.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

Inspiração

Acendeu outro cigarro e inspirou, esperando que o cigarro o inspirasse de volta.
O céu permanecera nublado o dia todo. O rapaz apagou o cigarro no cinzeiro, e agora segurava a caneta com uma mão e a cabeça com a outra.
A folha vazia continuava intocada. Foi até a geladeira e abriu mais uma cerveja.
Antes, sua vida era uma droga. Agora, as drogas eram sua vida.


Por onde começar? Não tinha a menor idéia. Não tinha a menor inspiração. Não tinha nada além de sua própria sombra e sua própria mente. E então finalmente teve uma idéia. Segurou a caneta e pôs-se a escrever a primeira linha:


"Acendeu outro cigarro e inspirou..."

Azul

O Céu é azul. O ar, o vento, as nuvens, os pássaros, o palco do sol e da lua. Voar é ser livre.


A Terra é azul. A grama, as árvores, as montanhas, o palco da humanidade. Caminhar é ser livre.


A Água é azul. A chuva, as ondas, os rios, os mares, os peixes, o palco da vida. Nadar é ser livre.


A Chama é vermelha. A paixão, o calor, a luz, a intensidade, o instinto. Mas a Chama consome tudo ao seu redor, seu poder e sua fúria transformam tudo em cinzas, até que não haja mais nada a ser destruído, e a Chama se extingue.
A Chama é vermelha, mas o Fogo é azul. A Chama é a paixão, o Fogo é o amor.
Amar é ser livre.



Sobre Pedras e Caminhos, Epílogo / Prólogo

Era o final do outono. A última folha da última árvore acabara de cair. Mas era diferente das outras. Não possuía ramificações, nem clorofila, nem cor alguma.


Era uma folha em branco.

Sobre Pedras e Caminhos, Parte V

Ele trilhou seu próprio caminho, sobre as cinzas e galhos quebrados. Sem olhar para trás, ele caminhou para onde quer que seus pés o levassem. Dia após dia, mês após mês, ano após ano. E finalmente ele chegou ao final.


Mais uma vez, lá estava a pedra. O rapaz deitou-se na grama.
"Então esse é o final?", perguntou.
"Este é o final do seu caminho", disse a pedra, "mas não é o final definitivo."
Não existe começo sem final, e não existe final sem começo.

Gaiola

Esqueceram a porta da gaiola aberta. Após tanto tempo, finalmente ele poderia escapar. Sem pensar duas vezes, sacudiu suas asas. Pulou para fora. E caiu.


Nunca aprendera a voar. Como poderia, tendo passado toda sua vida preso? Tentou correr para longe, mas notaram sua ausência e puseram-no de volta na gaiola, dessa vez verificando se a porta estava bem fechada. Qual a diferença, afinal? Estava seguro lá dentro, tinha comida e água, não precisava ir embora.
Não havia sido criado para voar.


Mas mesmo assim nascera com asas.

Sobre Pedras e Caminhos, Parte IV

Pouco a pouco, as chamas foram se extinguindo. O incêndio destruira toda a vegetação ao redor, e uma chuva de cinzas caía do céu. O rapaz andava em meio aos destroços, quando encontrou uma pedra.


"O caminho que eu seguia foi destruído", disse ele. "Para onde devo ir agora? Não há trilha alguma para seguir..."
"Então você terá que fazer seu próprio caminho", respondeu a pedra. "Escolha uma direção e faça a trilha por conta própria."
"Mas e se eu escolher a direção errada?", perguntou.
"Não se preocupe", disse a pedra.
Quando você está perdido, não existem caminhos errados.

domingo, 27 de março de 2011

˙oɹpıʌ o ɹɐɹqǝnb nınƃǝsuoɔ sıɐɯɐɾ sɐɯ 'oɥlǝdsǝ op ɐɹoɟ ɐɹɐd ɐʌɐɥlo oxǝlɟǝɹ O

oɥlǝds

Sobre Pedras e Caminhos, Parte III

O rapaz finalmente escolhera seu caminho. Durante uma semana andou entre as árvores e rochas, sobre folhas e galhos secos, sem muita convicção de que a sua escolha o levaria a algum lugar.


Começava a anoitecer. Não se ouvia mais o canto dos pássaros, e à sua frente só havia a escuridão. Mesmo se o final estivesse próximo, ele não poderia ver.


Estava com frio, faminto e exausto. Não aguentava mais andar, ia desistir.
E então ele avistou uma luz no horizonte, um último raio de esperança.
Correu com todas as forças que ainda tinha em direção à luz. Quanto mais se aproximava, mais forte era a claridade. Já não sentia mais frio, e logo percebeu que estava muito próximo da fonte de luz. Após atravessar o último par de árvores, ele finalmente viu, e um arrepio subiu pela sua espinha.
A fonte da luz era um incêndio.

sábado, 26 de março de 2011

Independência e Morte

Março de 2001. O garoto, sentado no sofá, passava a tarde toda assistindo tv, comendo salgadinho e bebendo refrigerante. Sempre fazia sua lição de casa, e de vez em quando jogava videogame na sala.


Março de 2011. O rapaz, sentado na cama, passava a noite toda na internet, comendo lanche e bebendo cerveja. Sempre fazia os trabalhos da faculdade, e de vez em quando fumava um cigarro na janela.


Tudo havia mudado, e mesmo assim nada havia mudado. Os ponteiros continuavam a se mover na mesma velocidade, até que a bateria acabasse.


O rapaz se olhou no espelho, e por um instante não soube de que lado estava.



Corredor

O corredor parecia não terminar nunca. De fato, percorria aquele corredor durante os últimos 14 anos e nunca avistara sinal de vida. Exceto por alguns retratos na parede que encontrava esporadicamente, o lugar era completamente deserto.


E então, de repente, ele o viu. Apenas alguns metros à sua frente, lá estava o monstro que o perseguia por todo esse tempo. Sem pensar duas vezes, sacou sua arma e apertou o gatilho.


Estilhaços de vidro se espalharam por todo o corredor.
"Que ótimo", pensou. "Mais sete anos de azar..."

sexta-feira, 25 de março de 2011

Cicatriz

As nuvens começavam a se dissipar no céu alaranjado. As duas crianças conversavam debaixo da árvore, enquanto o sol desaparecia no horizonte.
"Se você gosta mesmo de mim, então me conta um segredo", disse a garota, com um olhar sério no rosto.
"Bom, eu tenho uma cicatriz...", disse ele. "Você quer ver?"
"Quero!", respondeu a menina.
Ele tirou a camiseta para mostrar a cicatriz. Ela deu um grito e recuou.
"Essa é a coisa mais nojenta que eu já vi!", disse. "E nem é uma cicatriz, seu... seu mentiroso!"
Ela tinha razão, não era uma cicatriz. A ferida nunca cicatrizara.


Enquanto ela corria para longe, as estrelas começavam a surgir no céu. O garoto continuou sentado sob a árvore, com os olhos úmidos, perguntando a si mesmo se algum dia enxergariam além do sangue e do nojo.
Ninguém nunca notara que a sua ferida tinha a forma de um coração.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Sobre Pedras e Caminhos, Parte II

O vento havia diminuído. Enquanto as sombras se estendiam, o rapaz olhava fixamente para a pedra em meio aos dois caminhos.


"Qual caminho devo escolher?", perguntou.
"Existem caminhos longos, curtos, árduos, agradáveis... cabe a cada um escolher seguir aquele que mais lhe parece adequado", disse a pedra.
"Mas como posso escolher um caminho se não consigo ver o final?"
"Ninguém conhece o final", respondeu a pedra.
Mas isso não importa.
O final é sempre o mesmo.

domingo, 20 de março de 2011

Preto e Branco

Nuvens coloridas, aves agitadas, telhados opacos, sombras silenciosas. Enquanto ele admirava o pôr-do-sol, um pensamento passou por sua mente.


O que seria da noite se não houvesse o dia? E do dia, se não houvesse a noite? Chuva e sol, luz e escuridão, preto e branco, um não sobrevive sem o outro.
O equilíbrio é a ordem do universo. Mas não o equilíbrio estático, o cinza; e sim o equilíbrio entre o desequilíbrio e o equilíbrio.
Nesse dia ele percebeu que trazia dentro de si tanto o sol quanto a chuva.
E percebeu que somente na presença de ambos surge o arco-íris.

sábado, 19 de março de 2011

Sobre Pedras e Caminhos, Parte I

O sol nascia por entre as árvores. Fazia tempo que ele não saía para caminhar de manhã. O ar fresco do outono entrava em seus pulmões, e uma leve brisa trazia de volta lembranças em preto e branco.


Na metade do percurso, onde o caminho dividia-se em dois, encontrou uma pedra.
"Quem é você?", perguntou o rapaz.
"Eu sou uma pedra. E quem é você?"
"Não sei", respondeu.
"Claro que não sabe", disse a pedra. "Como poderia? A cada novo dia, a cada nova experiência, a cada novo pensamento, você se torna outra pessoa. Viver é um processo contínuo, não se pode definir quem você é julgando apenas um pedaço do todo."
"Então como posso descobrir quem eu sou?", perguntou.
"Não pode", respondeu a pedra, "pois essa é a pergunta errada. Para descobrir a resposta, você deve responder a pergunta certa."


A pergunta certa é: Qual caminho você quer seguir?

sexta-feira, 11 de março de 2011

Preto

A bola azul continua girando em meio ao vazio. Formada por inúmeras partículas, que também são apenas poeira em meio ao vazio. Seria a poeira real, ou apenas mais uma camada recursiva? Seria possível a escuridão preencher a si mesma?


A primeira folha cai. O chão não está mais vazio. De fato, nunca estivera.
Mas quando a folha for carregada para longe pelo vento, a sua ausência será preenchida pela lembrança.


O vazio não existe. Apenas a saudade.

quarta-feira, 9 de março de 2011

quinta-feira, 3 de março de 2011

Branco

Janeiro de 1947. A Guerra começava.
O General foi convocado para liderar as investidas contra os inimigos do Oeste. Seus exércitos tiveram inúmeras baixas e milhares de feridos. A escassez de alimentos e a precariedade da saúde fizeram com que o desespero lentamente tomasse conta do País. E dessa forma, a vida dava lugar à sobrevivência.


Outubro de 1957. A Guerra continuava.
Por mais de 10 anos o caos reinou no País. A última esperança do General eram os exércitos mandados pelos países aliados; mas estes o traíram antes da batalha decisiva, refugiando-se além das fronteiras ocidentais. Não existiam meios nem motivos para continuar lutando.


Março de 1961. A Guerra terminara.
Após 14 anos, não restara nada além de ruínas e destroços, nada além da devastação causada pelos inimigos do Oeste, nada além do medo e da solidão.
O General, exausto e consumido pela guerra, levantara a bandeira branca. E ao cair da noite, deitado em sua cama, percebeu que finalmente havia vencido.

terça-feira, 1 de março de 2011

Cinza

Uma bola azul girando. Uma mente cinza girando. E as cinzas continuaram queimando, mesmo espalhadas pelo chão.


Um mar de borboletas flutua entre as árvores. As nuances continuavam caindo, num horizonte há muito tempo esquecido. Um momento de silêncio, uma última brisa de verão.


Não há mais diferença entre o verde e o vermelho. Naquele breve momento, as duas cores se uniram numa só. Chama e combustível, ambos se tornam cinzas.
E as cinzas se espalham pelo ar.


Uma bola azul girando... nada é tão simples, afinal.

Requeijão

Eu moro perto do prédio do Pedro
Eu moro perto do prédio do Pedro
Eu moro perto do prédio do Pedro
Eu moro perto do prédio do Predo