quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Escuridão

Uma neblina inesperada cobria a cidade, que amanhecera fria e silenciosa.
O rapaz despertava, a cabeça sobre o travesseiro ainda úmido.
Levantou-se para tomar banho, e deteve-se ao notar que o espelho já estava embaçado antes mesmo que ele ligasse o chuveiro.
Esfregou a toalha contra o espelho, mas não viu seu reflexo.
Em seu lugar, uma silhueta encapuzada se aproximava lentamente. Seus braços pareciam ser tão finos quanto ossos. Mesmo sem conseguir enxergar seus olhos, o rapaz soube que seu olhar estava fixo nele.
"Não tenha medo.", disse a voz grave e seca através do espelho.
"Quem é você? E o que você quer de mim?", perguntou o rapaz, apavorado.
"Eu sou a Morte.", respondeu.
"E eu vim para lhe contar um segredo."


"Segredo?", repetiu o rapaz, incrédulo.
"Sim."
"Então você não veio me matar?"

"Eu não mato pessoas, apenas levo os mortos para o próximo mundo."
O rapaz encarava o espelho sem saber se o que presenciava era real.
"Qual é o segredo então?", perguntou.
E a Morte lhe disse:
"Chega um momento na vida das pessoas em que uma escolha deve ser feita; deve-se escolher entre o seu sonho ou a sua vida. Um dos dois deve morrer.
Muitas pessoas escolhem a vida, e assim seus sonhos morrem aos poucos.

Outros escolhem o sonho, e assim eles morrem aos poucos também.
De qualquer forma, a escolha sempre deve ser feita."
O rapaz continuava encarando o espelho.
"Eu já fiz a minha escolha", disse ele.
A Morte sorriu por baixo das sombras do capuz.
"Eu sei. Por isso vim te visitar."
O espelho se trincou com um ruído agudo e voltou a refletir o banheiro.
E o rapaz saiu em busca de seus sonhos.


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